Nosso início não foi fácil, como muitas histórias de amamentação que a gente lê por aí.
Mas vamos começar bem antes…
No comecinho da gestação, quando soube que teria gêmeos, conduzi o desmame do Ícaro. Afinal, eu não tenho três peitos. E por isso não banquei amamentar três crianças.
No momento em que soube que seriam dois bebês pra amamentar, comecei a buscar informação sobre amamentação gemelar. Busquei grupos sobre isso no Facebook, li alguns relatos. Fui a uma reunião do Ishtar-RJ (grupo de apoio ao parto) que teve como tema “amamentação”. Nesse dia a Bianca, uma consultora de amamentação muito experiente, falaria um pouco sobre amamentação. Aproveitei a reunião pra sacar minhas dúvidas, especialmente sobre as melhores posições pra amamentar dois RN ao mesmo tempo.
Quando estavam pra nascer, eu já sabia que podia amamentá-los. Tinha certeza de que meu corpo daria conta. Estava determinada a não dar nenhum tipo de leite além do meu.
E aí eles nasceram.
Tudo lindo, maravilhoso, ocitocina no ar e…
Tínhamos acabado de ir pra enfermaria da maternidade quando recebemos a visita de profissionais portando dois copinhos prontos com leite artificial (LA) para oferecer a Heitor e Amelie. Sim, isso mesmo. Não olharam meus peitos, não perguntaram se eu queria, não viram se tinha colostro. Vieram oferecer LA prontinho.
Tive que brigar, bater no peito e dizer que só complementaria a alimentação deles se fosse necessário e mesmo assim, eu o faria com o meu próprio colostro.
Pra minha sorte, quem estava comigo nessa hora era a minha doula (Ingrid Lotfi, te amo). A presença dela me deu ainda mais força pra brigar. Foi briga mesmo. Ela gravou mini vídeos de cada bebê mamando pra poder mostrar para a enfermeira que viesse empurrar LA. A gente mostrava: olha como eles estão sugando. E eles estavam mesmo. Mamava um, mamava outro, às vezes mamavam os dois. Era aquela sequencia básica de recém nascido: acorda, mama, faz cocô, troca fralda, dorme, acorda, mama…
O que eu mais lembro desse momento era do sono que eu sentia. O parto tinha sido longo e eu queria dormir uma vida. Ou pelo menos dormir duas horinhas. Mas o assédio da equipe pró leite artificial não me deixava em paz.
No segundo dia as coisas estabilizaram, nos deixaram em paz. Teve até visita do Ícaro pra nós. Essa era a posição que eu usava pra amamentar os dois ao mesmo tempo: segurava um em cada braço e ficavam os dois de frente, perninhas se tocando, meio que fazendo um “V” na minha frente. E mamavam, e mamavam…
No outro dia fomos pra casa. Apojadura. Desce o leite e a gente fica com aquele peitão imenso. E a clássica noite de eu acordar botando os peitos no berço, achando que era uma criança. Sim, o peito estava tão pesado que no transe do sono eu achei que fosse um bebê.
Nossa rotina de amamentação foi se ajeitando. Nesse comecinho, eu usava muitas vezes a almofada de amamentação quando precisava amamentar os dois ao mesmo tempo. Colocava as cabecinhas na almofada e perninhas pra trás, “posição invertida” é o nome desse arranjo.
As noites…
As noites eram muito loucas, mal dormidas. Tínhamos um berço portátil que ficava no pé da nossa cama de casal. A essa altura, Ícaro dormia com minha mãe no quarto dele. Ela passou um tempo inicial conosco, foi fundamental! 🙂
Cabiam os dois recém nascidos pequetitos no berço. A gente deitava pra dormir e íamos pegando criança no berço pra mamar quando chorava. Na prática, ficávamos poucos minutos deitados pensando em dormir e antes da gente pegar no sono chorava a primeira criança. Marido pegava e me dava pra amamentar. Deitada de lado, criança no nosso meio, soltava o peito pra fora, criança mamava, criança dormia, eu dormia, criança fazia cocô, marido trocava, botava no berço como um ninja, ou ficava do nosso lado mesmo. Segunda criança chorava. Se tinha um dormindo no nosso meio, trocava A por B. Tira da cama, bota no berço. Tira do berço bota na cama. Deitada de lado, criança no nosso meio, soltava o peito pra fora, criança mamava, criança dormia, eu dormia, criança fazia cocô, marido trocava, botava no berço como um ninja, ou ficava do nosso lado mesmo.
Era uma parada tão frenética que quando tinha um choro, às vezes a gente pensava: quem é que tá aqui no meio mesmo? Ah, Amelie tá chorando no berço. Ih, então é Heitor que tá aqui? Zoada de sono, não sabia nem mais quem eu era, que dirá quem era a criança que estava do meu lado. rs
Às vezes acordavam juntos. Aí eu tinha que sentar na cama pra amamentar juntos. Eu ainda não sabia amamentar os dois deitada. Aí marido coletava a primeira criança que dormisse, botava no berço. A segunda ia em seguida. E tínhamos mais umas horinhas de sono até começar tudo-de-novo-de-novo-de-novo.
Com o passar do tempo, as horas de sono foram aumentando.
Com um mês e pouco mudamos pro quarto das crianças pra dormir com Ícaro. Muitos colchonetes no chão e foi dada a largada pra nossa enorme cama compartilhada a 5. Um ganho incrível na qualidade de sono, por que eu ficava com 1 bebê de cada lado meu e só virava de ladinho pra amamentar quem chorasse. Viva! E ainda estava pertinho do primogênito. Puro amô. Fora que acordar com todos juntos ali era fofo demais.
Amamentação exclusiva ou “peito pra toda obra”
A amamentação exclusiva seguiu até os seis meses. Então, se as noites eram loucura total, os dias eram praticamente de peitos pra fora amamentando em qualquer local e circunstância. Eu amamentava montando lego com o mais velho, amamentava no computador trabalhando, amamentava na cozinha enquanto esperava a comida cozinhar, amamentava cria no sling enquanto fazia compras.
Super mulher? Diva? Guerreira? Nada disso. Apenas assumindo as minhas escolhas e ainda sendo privilegiada por ter uma rede de apoio e informação, que fazem muita falta para tantas mulheres que querem amamentar e acabam não conseguindo. Na minha vivência, a amamentação exclusiva foi uma fase difícil, de alta demanda de energia, mas não se compara ao que veio depois. Mas isso é assunto pra outro post… rs
A fome que eu sentia durante o tempo da amamentação, especialmente nos 6 primeiros meses, era assustadora. Eu comia feito monstra. Comia muito. Sentia muita fome. E vivia louca por sobremesas ogras e outros alimentos de alto valor calórico. Lembro de umas bombas de leite moça misturado com aveia, cacau e tudo mais que houvesse na frente. Comia muito e só emagrecia.
Eles foram crescendo e continuaram mamões. Começaram a introdução alimentar e continuaram mamando bastante. As posições foram variando. Manja mama sutra? Então, era bem isso. Toda mãe que amamenta/amamentou deve saber do que estou falando. 😉
Projeto Bonita é a Mãe da fotógrafa Renata Penna
Foto pra tevê – foto por Clarissa Bagno Fotografia
Hum… e fomos até pra tevê falar de amamentação… 🙂 Espia só aqui: programa Amor & Sexo